Irina Ilash

Aluga-se Um Estilo Chique

Alugar vestuário de cerimónia

Crescem em Portugal os negócios de roupa e acessórios para festas a troco de poucos euros

Diz-se que à mulher de César não basta ser, tem de parecer. E parecer, nos dias que correm, é ter estilo, usar marcas famosas e mostrar glamour. Mesmo para quem tem um orçamento reduzido. Em resposta a essa premissa, há quem aposte num novo nicho de mercado: o aluguer de roupa e acessórios para festas e eventos. Em Portugal, o negócio é tímido e só agora começa a crescer, mas noutros países já faz parte da história.

Irina Ilash
Irina Ilash gerente da loja iLon

FRAQUES À MEDIDA

Fraques, smokings e vestidos clássicos de noiva não têm segredos para Irina, que nos anos 1990 trocou o frio da Ucrânia natal pelo sol de Portugal. A loja Ilon, na rua do Arco do Carvalhão, em Lisboa, vai celebrar seis anos e não se queixa da crise. Muito pelo contrário.

“O negócio surgiu da experiência que tive na Ucrânia, onde geria uma loja semelhante. Mas com a queda da União Soviética as pessoas deixaram de frequentar eventos sociais e de usar roupas chiques, fraques e smokings. Agora já se começa a ver mais, assisto a isso nas telenovelas que sigo a partir daqui, mas durante muitos anos não se usava.” Portugal foi assim uma oportunidade para recuperar o glamour.

Por cerca de cem euros, Irina aluga um fraque completo, que inclui a casaca de abas de grilo, colete e calça riscada, bainhas adaptadas ao cliente e serviço de lavandaria. Numa loja de venda ao público, não se despende menos de 700 euros por um conjunto semelhante. A camisa custa mais dez euros de aluguer, no entanto, diz Irina, é uma peça que o cliente costuma ter no seu próprio guarda-roupa, assim como a gravata.

O segredo deste negócio reside na discrição dos fatos e da casa. Irina fornece casamentos para todo o País e muitos clientes que viajam pela Europa. Quem leva o fato deixa uma caução, recebida em caso de entrega sem problemas. Por trabalhar directamente com duas marcas especializadas neste género de roupa de cerimónia, a Ilon tem modelos para todos os tamanhos. “É só pedir à fábrica e eles mandam”, diz, enquanto mostra um tamanho XXL como exemplo.

Mais restrito é o universo feminino. A loja Ilon deixou de investir nos fatos de cerimónia para mulheres por estas “nunca saberem bem o que querem e os modelos variarem radicalmente todos os anos”. Para noivas, tem uma oferta de cinco a seis modelos por estação, cujo aluguer custa entre 150 a 250 euros, fatos para meninas das alianças, adereços e véus – curtos, médios e compridos.

O sucesso da Ilon cresce sazonalmente e com clientes portugueses, apesar de aos poucos começarem a surgir pedidos do Brasil e até do Canadá. “Na Primavera e no Verão há sempre mais procura para fraques, pois é a época dos casamentos. Já os smokings são mais requisitados no Inverno, também porque são indicados para festas que acontecem depois das 18h00″, explica Irina, que conhece bem a alma destes trajes de cerimónia.

NOIVAS VINTAGE

Foi precisamente de outras paragens que Monique Sabo trouxe a ideia que expõe na montra da Chic au Vendre, loja de roupa vintage que anima uma das ruas mais movimentadas do Monte Estoril. Alugar um vestido de noiva pode causar estranheza em Portugal, mas é prática comum na Europa Central e no Brasil, onde poucas são as mulheres que estão dispostas a pagar mais de dois mil euros por uma peça de pronto-a-vestir que se usa numa única ocasião.

No espaço de paredes coloridas, Monique mostra modelos incríveis, que têm várias histórias para contar. Há trajes de noiva do princípio do século XX, saias-casaco em seda antiga, vestidos longos com rendas cremes, que fizeram furor nos anos 20, peças debruadas a malmequeres, a denunciar o espírito festivo dos anos 70, e fatos compridos em bordado inglês, como “usavam as senhoras antigas nos piqueniques”. Saiotes de tule, capelines e véus completam a festa.

A ideia surgiu a esta libanesa loira de olhos azuis depois de assistir à labuta de uma amiga que muito procurou para encontrar o vestido original e perfeito para o casamento da filha.

“Nas lojas de pronto-a-vestir os modelos são sempre iguais. E foi assim, para marcar a diferença, que nos lembrámos deste segmento. A partir daí começaram a surgir peças novas todos os meses e durante alguns meses foram apenas os modelos de noiva que animavam a montra. Agora, já estou a misturar com outros porque estava cansada”, diz Monique, entre sorrisos.

Os preços variam consoante a qualidade e estado da peça, a localização e duração do evento. E a Chic au Vendre assegura ainda a adaptação do vestido ao corpo de cada noiva, a limpeza rigorosa e cuidada e outros acessórios que sejam necessários. Na loja do Monte Estoril, quem souber procurar também encontra sapatos ou sandálias Yves Saint Laurent, Marc Jacobs ou Miu Miu, malas Gucci e outras peças vintage. Obrigatoriedade é essa mesma: gostar do estilo chique de outra época.

CLOSET À MEDIDA

Numa sala virada para o mar, Filipa Macara desfila um bom gosto à prova de bala. Aos 29 anos, abre a porta de sua casa para alugar combinados ideais para festas e outros eventos. Os casamentos são, também aqui, o prato forte, já que “ninguém gosta de repetir fatos numa festa onde sabe que vai encontrar os mesmos convidados e nem todos os dias se pode gastar os 200 euros, mínimo necessário para estar bem”, diz.

O ponto de arranque foi o seu próprio guarda-roupa, acumulado durante anos a frequentar festas chiques. O passo seguinte foi a criação do Mac’s Closet, uma espécie de ateliê que funciona através de marcações online e onde pendura um pouco de tudo: desde calças da feira, vestidos assinados por Pureza de Mello Breyner, Augustus, Manuel Alves, Zara, Primark ou Stella McCartney, a peças de vestuário oriundas de destinos exóticos, adquiridas nas muitas viagens que a mãe faz.

Quem tiver olho, encontra nos charriots alinhados junto à parede uma túnica rosa e branca, com a delicadeza única do Japão, ornamentos para a cabeça ou clutches com as cores frescas de Malta e um vestido preto, curto e de costas abertas, comprado na viagem de lua-de-mel, na Argentina.

Mas quem precisa de ajuda pode sempre contar com o olho clínico de Filipa, que à licenciatura em Psicologia somou estudos de styling em Londres e na Pulp Fashion, em Lisboa. Quando escolhe um combinado, Filipa acerta sempre no estilo certo de cada cliente.

“Da cabeça aos tornozelos, sai-se daqui com o modelo completo. Só os sapatos é que não vão. São meus e servem para amostra, para quando uma pessoa quer experimentar um vestido e ver como fica o look completo ao espelho. No entanto, por vezes pedem tanto que também levam, têm é de calçar o número 37″, adianta.

AS MALAS PREFERIDAS

Uma amizade de longa data, um ‘fraquinho’ por malas de marca e uma cena do filme ‘O Sexo e a Cidade’ – em que a assistente de ‘Carrie’ admitia alugar as carteiras de luxo que exibia semanalmente – inspiraram três empresárias a criar o site Glamourous.pt. Nesta loja virtual pode alugar-se uma carteira Louis Vuitton, Gucci ou Prada por preços que podem ir de 25 a 80 euros, consoante o tempo (três dias ou uma semana) e a distância. Exactamente como no cinema.

Ana Paula Oliveira, Lia Monteiro e Rita Tomás trabalham na Banca e na administração mas, como todas as mortais, admitem que é “aborrecido usar sempre a mesma mala”; uma dor de cabeça para quem, como elas, adora modelos caros.

Decidiram então explorar um conceito comum noutros países, investir 30 mil euros na compra de malas e mais “uma pipa de massa” num site de qualidade que “fizesse a diferença” e passaram a disponibilizar luxo acessível a todas as carteiras.

No site glamorous.pt há propostas para os mais variados eventos, sejam casamentos, jantares ou reuniões de negócios.

O modelo que tem mais saída é o ‘Neverfull’ da Louis Vuitton, explicam. Com lista de espera de dois anos no site glamorous, a famosa carteira ‘Birkin’ de Hermès, que custa mais de cinco mil euros na loja, sai a 85 euros por três dias, 95 por uma semana e 450 para quem quiser andar com ela durante um mês. Mais acessível, a ‘Speedy 30’ da LV, que custa cerca de 460 euros, pode ser alugada por 55 euros (três dias), 65 (uma semana) ou 150 (um mês). Muito procuradas também são as carteiras pequenas, as pochetes, ideais para festas de luxo e casamentos.

O sucesso já chegou ao Brasil, mas as três amigas não pensam em saltar o Atlântico para já. “Aqui em Portugal conseguimos controlar o mercado. As clientes sabem que as nossas malas estão sempre em perfeitas condições, e asseguramos a entrega e a recolha em todo o País, através de um serviço de transporte. Essa é também uma das vantagens, pois graças a esta confidencialidade, assegurada pelo serviço on-line, ninguém sabe quem usa uma mala alugada”, diz Lia Monteiro.

E quem usa este serviço são mulheres de todas as idades, garante Ana Paula Oliveira. “Temos desde jovens, que querem usar a Louis Vuitton numa festa de aniversário, até pessoas de 40/50 anos que procuram uma carteira clássica para um evento ou uma reunião de negócios.”

Com tanta procura, as empresárias alargaram o leque à venda de malas em segunda mão. “A obrigatoriedade é que as peças estejam em perfeitas condições, temos à venda uma mala de marca que nunca foi usada”, frisa Ana Paula Oliveira.

SUCESSO NA PENÍNSULA

Na era da internet, o espaço virtual mostra ser uma plataforma ideal para lançar este tipo negócios. Foi precisamente na rede que nasceu a 24fab.com, loja de aluguer de roupas de luxo, com site para clientes em Espanha e Portugal e que entretanto abriu casa em Madrid.

A inspiração surgiu a Anabela Zamora, ex-directora da ‘Elle’ e da Loewe e mentora deste conceito, numa viagem a Londres. “Apaixonou-se por um casaco da marca Stella McCartney e ao ver o preço lembrou-se que seria uma boa ideia conseguir disponibilizar peças a preços acessíveis para quem não as pode comprar”, explica a relações-públicas da marca.

A 24fab.com nasceu em 2009, quando o conceito de net-a-porter já era mundialmente conhecido e começavam a surgir as ofertas dos outlets on-line, lojas que vendem na rede colecções antigas de roupa de marca a preços de saldo.

Zamora quis então criar uma “multimarca de luxo para alugar, sempre com roupa da estação. Nem todas as pessoas têm possibilidades para comprar roupas de prestígio e assim, graças a este conceito, podem usá–las sem se obrigarem a um grande investimento”.

Na 24fab as clientes podem adquirir vestidos e todo o tipo de acessórios, desde carteiras, chapéus, toucados, saídas de festa e casacos e estolas de pele. Nas etiquetas lê-se o nome de marcas internacionais como Ungaro, Lagerfeld, Marchesa, Halston Heritage, entre outros.

Diz a especialista que “em apenas 24 horas, uma cliente da 24.fab consegue um look completo e fabuloso para um qualquer evento importante. O negócio está a crescer e os interessados são muitos”.

“Temos várias clientes de Portugal que solicitam conselhos e assessoria de moda através da página web e de e-mail”. E, garantem, há também quem viaje até Madrid para ver ‘in loco’ a oferta desta loja original. “Estamos na zona comercial ‘premium’ de Madrid, rodeada de lojas especializadas em moda de luxo e isso alarga o nosso público-alvo. As nossas clientes são sempre pessoas com gosto e estilo, com um poder de compra médio, mas que têm atenção aos gastos. São executivas, estilistas, mulheres de altos cargos políticos e empresárias.”

Em Portugal há ainda serviços de outros alugueres de produtos de luxo. Desde jactos privados na Blue Heaven, iates na Southwest Charters, iates Sunseeker ou Veleiros, e carros na Prestígio Limousines ou Limousines Angels Limas. Basta um clique.

“NEGÓCIO COMEÇOU COM AS MINHAS PRÓPRIAS ROUPAS DE FESTA”

Filipa Macara sempre teve um gosto especial pela roupa e montou o negócio da Mac’s Closet por inspiração da mãe, que a via a emprestar roupa às amigas. “Já todas fizemos isso e muitas vezes acabámos por perder as nossas peças. Resolvi então começar a alugar os meus próprios modelos, acumulados durante anos.” No closet montado em sua casa, no Estoril, há modelos para todas as mulheres, desde que exijam bom gosto. Um combinado completo para um evento pode custar menos de cem euros.

NOTAS

Alugar vestuário de cerimónia – A ESTREIA

Lançado em 2004, nos EUA, o site bagborroworsteal foi pioneiro a alugar malas de luxo.

SUCESSO

O site de aluguer cresceu graças à publicidade feita no filme ‘O Sexo e a Cidade’.

MERCADO

Pela dimensão, os mercados dos EUA e do Brasil são dos mais apetecíveis para este negócio de aluguer de luxo.

QUINTAS

O aluguer de espaços privados para festas e casamentos é comum em Portugal.

JACTOS

A Blue Heaven Portugal tem serviço de aluguer de jacto privado por três a sete mil
euros.

PARIS

Em Paris aluga-se roupa de luxo em ondressingsecret; mabonneamie; jeloueduluxe ou dressingephemere.

Isabel Faria

Fonte: Correio da Manhã Aluga-se um estilo chique